Há tanto o que falar sobre a pele durante e depois da gestação, que poderíamos ter um blog exclusivamente a esse respeito. Na medida do possível, tenho procurado compartilhar com as leitoras aqui do blog algumas considerações sobre essa fase, enquanto estou à espera do João Pedro, que chegará em breve.
Já comentei sobre a delicada e necessária relação das grávidas com o sol (veja mais aqui neste link) e também sobre o risco dos melasmas (clique aqui para conferir o post). Mas gostaria ainda de tocar em outros temas, compartilhando minhas próprias experiências e minha visão como dermatologista.
A gravidez impõe inúmeras alterações no organismo materno e isso se reflete na nossa pele, nos nossos cabelos e até mesmo nas nossas unhas. São questões fisiológicas, isto é, processos naturais e necessários para uma gestação saudável, mas que costumam gerar grandes impactos na auto-estima e na autoconfiança.
Embora grande parte dos tratamentos estéticos convencionais NÃO possa ser realizada pelas gestantes, algumas medidas preventivas e de amenização de alguns sintomas podem e devem ser estimuladas nessa fase. O devido acompanhamento dermatológico da gestante (ou seja, a orientação pelo seu dermatologista de confiança) evita o surgimento de marcas e/ou manchas, além de deixar a mulher mais confortável enquanto aguarda a chegada do bebê.
Vejamos alguns pontos críticos:
ESTRIAS: elas representam as maiores queixas das grávidas em relação à pele. Essas marcas tendem a surgir sempre que a pele sofre estiramentos muito rápidos, sofrendo rompimento das fibras colágenas e elásticas. Logo que surgem, além do impacto estético, com seu aspecto avermelhado, as estrias causam coceira e até ardor na região afetada, sendo, por isso bastante incômodas. Depois do parto, as marcas não desaparecem. Elas se tornam esbranquiçadas e são necessários tratamentos específicos para amenizar o problema (saiba mais sobre os tratamentos aqui neste LINK). Por todas essas razões, o uso de EMOLIENTES e HIDRATANTES específicos durante a gestação deve ser encorajado. É bom que a gestante procure um dermatologista para receber essa orientação. Bem nutrida e hidratada, a pele tende a ser mais resistente, diminuindo a propensão às estrias. O ritmo com que a mulher ganha peso e a manutenção de uma alimentação bem balanceada também podem influenciar positivamente na prevenção das estrias gravídicas.
HIPERPIGMENTAÇÃO: caracteristicamente, a hiperpigmentação aumenta de intensidade ao longo da gravidez. Isso está relacionado ao aumento dos níveis hormonais, principalmente daqueles estimuladores de melanócitos (células que produzem a melanina – pigmento da pele). A hiperpigmentação pode acontecer de forma branda e generalizada ou se concentrar em algumas áreas, de forma distinta, evidenciando-se mais no escurecimento da linha alba (formação de uma faixa linear acastanhada ao longo da linha média do abdome), no escurecimento de áreas normalmente mais pigmentadas (aréolas, mamilos, genitália, axilas, região periumbilical e interior das coxas) e no surgimento ou agravamento do melasma (manchas acastanhadas localizadas principalmente no rosto). Em algumas áreas, como a linha alba, a hiperpigmentação tende a retroceder após o parto. Mas o melasma, embora possa regredir após o parto, muitas vezes permanece, exigindo tratamento posterior. O uso de filtro solar nessa fase e as demais medidas de fotoproteção são muito importantes para evitar o problema.
PELOS: o aumento dos pelos do corpo e está presente em praticamente todas as mulheres na gravidez, em diferentes graus. É mais freqüente na face, mas também ocorre nos braços, pernas e dorso. O fenômeno também está relacionado às alterações hormonais próprias da gravidez e, em geral, regride dentro de 6 meses pós-parto. A retirada de pelos por métodos tradicionais com uso de cera, lâminas ou pinças pode continuar a ser feita normalmente durante a gestação. Já os métodos definitivos de eliminação de pelos, como a fotodepilação ou a depilação a laser NÃO podem ser feitas nessa fase.
CABELO: a renovação dos fios capilares (com queda e nascimento de novos fios) ganha características diferentes durante a gravidez. Nessa fase, as mulheres geralmente percebem aumento da espessura do fio de cabelo no período. Entretanto, dentro de 1 a 5 meses após o parto, uma grande proporção de cabelos entram em fase telógena, resultando em queda importante de fios, trata-se do eflúvio telógeno, que pode persistir por alguns meses. Algumas mulheres desenvolvem afinamento difuso dos fios ou rarefação capilar, situação que pode não ser totalmente reversível no pós-parto e exige acompanhamento pelo dermatologista.