Há algum tempo, falei aqui no blog sobre responsabilidades em tratamentos estéticos. Citei o longo processo de formação do dermatologista, as inúmeras provas e avaliações a que somos submetidos, além das nossas constantes atualizações. Destaquei também aquilo que acho crucial: o fato de, como médicos, colocarmos a saúde global do paciente em primeiro lugar e de estarmos preparados para trabalhar a pele como um órgão específico, ligado ao complexo sistema que é o organismo humano.
Passados quase seis meses desde que compartilhei essas reflexões, é lamentável constatar que, cada vez mais, continuamos a tomar conhecimento de ocorrências desastrosas, resultantes de tratamentos mal sucedidos, conduzidos por quem não tem a devida formação para realizá-los. Há casos de óbito, inclusive.
O panorama que vemos não é apenas preocupante. É mesmo grave e urgente. Neste momento, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) está se mobilizando, por meio de diversas ações para conscientização e esclarecimento da população, e também buscando acionar as autoridades competentes, para ações efetivas de proteção aos pacientes.
Conforme informa o Dr. Gabriel Gontijo, presidente da SBD, em artigo publicado no último dia 1º, no Correio Brasiliense, a entidade tem levado a parlamentares federais um dossiê com 180 páginas com imagens de complicações graves e de anúncios de não-médicos oferecendo procedimentos estéticos “milagrosos”. A exposição das informações já começa a render posicionamentos afirmativos, segundo ele.
Entretanto, junto com leis mais rigorosas, regulamentações e efetiva fiscalização da prática ilegal da Medicina, o charlatanismo e o oportunismo no campo dos tratamentos estéticos só irão mesmo deixar de colocar os pacientes em risco no dia em que as pessoas estiverem mais conscientes, informadas e atentas a esse respeito. Quando a pessoa preocupada com a beleza entender que isso é algo indissociável da saúde, aí sim vamos começar a ver mudanças.
Aventureiros existem e colocam tantas pessoas em risco porque, infelizmente, existem aqueles que se dispõem a pagar pelos seus serviços. Grande parte das vezes, o paciente está simplesmente mal informados sobre o que são procedimentos invasivos e, principalmente, sobre os riscos implicados nessas situações. Noutras vezes, mesmo já tendo tido informações prévias, a pessoa prefere arriscar em nome da ilusão de um “desconto”, esquecendo-se que, nesse campo, o “barato” pode sair muito caro.
Não existe “milagre”. Equipamentos para a realização de tratamentos implicam em custos de aquisição e de manutenção para funcionarem de forma eficiente e segura. O mesmo acontece com os medicamentos e as substâncias utilizadas, quando realmente adquiridas e preparadas dentro de todas as normas vigentes de biossegurança. Além disso, um local de atendimento precisa seguir rigorosas normas nas suas instalações e na sua manutenção. Isso sem falar novamente na devida formação do profissional.
Então, quando você vir algo muito abaixo da média, desconfie.
Ou melhor, na hora de eleger os seus tratamentos pesquise sim os preços e faça comparações – afinal, valores exorbitantes também existem e isso não é garantia de qualidade. Mas pesquise também e prioritariamente a formação do profissional e o seu histórico. Isso, sim, faz toda a diferença!